O luto tem sido tema recorrente na cadeira de procedimento. Nela se acomodam humanos dotados de tamanha força para recomeçar que desafiam minha compreensão.

São filhas orfãs da mãe amada, do pai tão querido, pais e mães enlutados pela perda inominável do filho, viúvas do companheiro de meio século, irmãs inseparáveis distanciadas pela pandemia.

Há um quê de divã na cadeira de procedimento e, não raro, também lá as lágrimas costumam se deixar ir.

Eu espero, ofereço a escuta, o lenço, a pausa, o tempo para se refazer.

Mas como é que alguém se refaz da dor de saber que alguém tão amado jamais estará de novo por perto?

Cada um responderá a essa pergunta a seu modo, no seu tempo.

As seringas, os fios, as agulhas ajudam a deixar o olhar cansado mais distante da fisionomia, o semblante abatido da face vai dando lugar a um rosto estruturado que ajudará a encarar o mundo de ausências tão presentes com mais firmeza.

Quem dera eu pudesse consertar as coisas também por dentro, remendar a alma. Sustentar não a face, mas a fé, volumizar não os malares, mas a vontade de viver, harmonizar não o rosto, mas a vida, apagar não as rugas, mas as dores.

Este texto foi escrito por Janaina Tirapelle, autora original e exclusiva do conteúdo aqui apresentado. Todas as ideias, reflexões e construções expressas são fruto de vivências, estudos e percepções pessoais. Este material é protegido por direitos autorais. Sua reprodução, total ou parcial, bem como qualquer forma de uso, citação, adaptação, compartilhamento ou publicação em qualquer meio (físico ou digital), não estão autorizadas sem citação da fonte e prévia e expressa autorização do autor. O desrespeito a esta condição constitui violação de direitos autorais, sujeita às penalidades previstas em lei.